Entrevista com Luíz Fafau um dos primeiros zineiros, jornalista alternativo de Goiânia e um dos responsáveis pela Loja Hocus Pocus sebo que há mais de 20 anos difunde cultura de quadrinhos, livros e Rock n Roll na cidade. Falamos sobre o surgimento dos fanzines em Goiânia na década de 80 e 90, sobre seus conteúdos e produtores, distribuição e afins e do cenário underground da cidade que há muitos anos realizam suas manifestações culturais.
1
– Qual foi o seu primeiro contato com fanzines, tanto de outras cidades quanto
daqui de Goiânia? Em qual época isso aconteceu ?
Foi no
começo dos anos 80. Eu já produzia um jornal de bairro em Goiânia, no Setor
Criméia Leste. Chamava-se Jornal Crimelão. Era um jornal comunitário mensal. O
intercâmbio com outros jornais comunitários pelo Brasil, fez com que me
aproximasse e fizesse contato com produtores de outro tipo de material gráfico,
mais voltado à cultura, como os fanzines, a art Postal e outras publicações
digamos, mais formais (jornais e revistas convencionais).
2 – Quais foram os principais fanzines
produzidos em Goiânia nos anos 90? E qual foi o tempo que conseguiram resistir
nessa atividade?
Não
tenho essa informação. Eu produzia e distribuía, mas não catalogava ou mesmo
guardava. Mas nos anos 90 houve um boom de zines em Goiânia. Como a Hocus Pocus
era uma referência da cultura underground na cidade, os produtores deixavam na
loja os zines para a distribuição, normalmente gratuita. Tinha muito zine de
fan clube (raul, elvis, beatles etc) e outros voltados para a poesia, contos
etc.
3 - Qual foi à importância e a
resistência dos fanzines como mídia alternativa no cenário underground dos anos
90 na cidade, pode ser considerado como o principal meio de comunicação dentro
desse meio na época?
Não
era o principal meio de comunicação da época, a não ser que você se refira à
comunicação (divulgação) da produção própria de seus realizadores. Claro que
muitos traziam uma ou outra notícia de eventos, endereço para intercâmbios etc.
Mas no geral cada um divulgava sua própria produção. Tem que se levar em conta
ainda que a tiragem era muito pequena. Alguns produziam 20, 50, no máximo 100
exemplares e atingia um público muito restrito.
4 - Como era o modo de produção,
distribuição e conteúdo dos fanzines de Goiânia nos anos 90?
A
produção era basicamente em fotocópias (Xerox), a distribuição era de mão em
mão e o conteúdo era variado (música, poesia, arte visual etc). Muito se
associa os zines ao movimento punk. entretanto, na sua grande maioria, os que
tratavam desse assunto era muito mais voltado para as bandas punk que à
política ou a conteúdo filosófico/comportamental.
5 - Havia um ponto de encontro para a
realização dessas atividades relacionadas à fanzines? O que acontecia nesses
locais?
Não
era um movimento organizado, era muito mais espontâneo que organizado. Algumas
lojas mais alternativas que vendiam vinil distribuiam esse material. A Hocus
Pocus, com toda certeza, foi a principal referência para os produtores e
interessados nessas publicações.
6 - Qual foi à abrangência atingida
pelos fanzines da cidade? Ultrapassaram as fronteiras e alcançaram pessoas em
outros estados e cidades?
Acredito
que havia muito mais pessoas atingidas fora da cidade que propriamente aqui. O
grosso da produção era utilizado para intercâmbio com publicações de outros
estados ou países, ficando uma parcela menor para a distribuição local.